Universo Pirata

 


            Em janeiro de 1882 o escritor britânico Robert Louis Stevenson publicou pela primeira vez o livro “A ilha do tesouro”, um ato tão simples que influenciou gerações de livros, filmes, séries e jogos ligados ao imaginário dos piratas! Provavelmente tudo o que você conhece hoje sobre piratas, tesouros perdidos e muito rum, é graças ao Robert.

            Por esse motivo, eu decidi fazer um apanhado de informações e trazer desde termos náuticos a estereótipos de piratas. Se você está escrevendo sobre esse universo, já separa o bloco de notas e comece a anotar porque vai ter muita coisa.

1. Aparência e vestuário

            Quando se fala em piratas, é muito comum que a primeira imagem que venha na mente de muitas pessoas, seja um pirata malandro com um grande chapéu, colares de ouro, um papagaio no ombro e até uma perna de pau! Mas todo esse esteriótipo não surgiu do acaso.

            Durante os séculos XVI e XVIII, os piratas ficaram muito conhecidos por atacarem embarcações marítimas que navegavam por toda a Europa, sempre em busca de riquezas, mercadorias e posses.

                Naquele época era comum que os piratas ficassem nas Ilhas do Caribe e no Oceano Atlântico, quanto mais conhecidos ficavam, mais pessoas se juntavam a pirataria, até mesmo os navegadores de outros navios. Muitos piratas gostavam de exibir suas riquezas e preservavam por uma aparência assustadora para intimidar os inimigos.

                Graças a quase 300 anos de histórias, criou-se uma imaginação quase mística de piratas, onde os mesmos eram atacados por lindas sereias, sofriam maldições do mar e até enterravam tesouros em ilhas escondidas. É claro que com o passar dos anos essa ideia foi ainda mais incentivada por meios de entretenimento e os piratas que antes eram vilões maldosos, passaram a ser vistos como heróis divertidos.

Vestimentas padrão: chapéu, casaco, calções ou calças, sapatos de fivelas e uma faixa para guardar armas. 

        Mas essas vestimentas padrão não eram exclusivas apenas para um grupo de piratas, também existiam mulheres piratas e as suas roupas mudavam de acordo com o seu sexo e gosto pessoal de cada um.

Mulheres: as mulheres piratas eram modestas em suas vestes, usavam um chapéu feminino gasto, um casaco de marinheiro feito com lã forte, calças ou calções em telas de homens. Os sapatos tinham fivelas e as meias costumavam ser curtas e quentes. Já para guardar as suas armas (algo parecido com facas ou espadas menores), usavam faixas que ficavam suspensas em seus ombros.

Homens: ao contrário das mulheres, os homens piratas usavam roupas bem coloridas e chamativas. Seus chapéus eram feitos de feltro no estilo tricórnio com plumas, ou faziam chapéus de palha com o símbolo pirata, também conhecido como jolly roger. Normalmente os seus casacos eram roubados de mercadores, na maioria das vezes feitos de veludo fino e debruados.

            As suas calças eram fortes, iam até a altura de seus joelhos com fitas coloridas que combinavam com suas meias de lã quentes que também tinham ligas, e todo o look era completo por sapatos de fivelas. Para guardar o seu armamento, eles costumavam usar faixas coloridas onde guardavam suas facas e usavam bandoleiras para guardar suas armas de fogo.

            Essas eram roupas comuns, mas isso não te impede de viajar um pouco e colocar tapa olhos, casacos de pele, correntes, anéis e pulseiras de ouro. Afinal de contas, esse é o seu universo.

2. Código de conduta dos piratas

            Assim como em toda e qualquer sociedade, os piratas também tinham leis e regras que deveríam cumprir, afinal de contas, não é porque eles eram ladrões e saqueadores que eles viviam em uma bagunça sem leis.

a) Democracia, água e comida: “Todo homem deve ter um voto igualitário nas questões do momento. Ele deve ter um direito igual à provisões frescas e álcool a qualquer momento, e deve usar esse direito a não ser que a escassez torne necessária uma nova votação sobre as partes de cada um, visando o bem comum”.

b) Ética do ramo: “Todos os homens serão contemplados justamente com os prêmios. Mas se defraudar a companhia, mesmo que em apenas um dólar de prata, joias ou dinheiro, eles serão abandonados. Se qualquer homem roubar o outro, ele terá seu nariz e orelhas arrancados e será abandonado onde, com certeza, encontrará dificuldades”.

c) Apostas proibidas: “Ninguém deve apostar dinheiro nas cartas ou nos dados”.

d) Toque de recolher: “As luzes serão apagadas às oito da noite, e se algum marujo desejar beber após essa hora, ele deverá ficar no deque de luzes apagadas”.

e) Prontidão: “Todo homem deve manter suas armas, faca e pistolas limpas e preparadas para a ação”.

f) Navio não é lugar de sexo: “Nenhum garoto ou moça de fora será permitido. Se algum homem for encontrado seduzindo alguém e trazendo essa pessoa disfarçada para o mar, ele sofrerá pena de morte”.

g) Honra do soldado: “Aquele que desertar o navio ou seu posto durante batalhas será punido com morte ou abandonado".

h) Brigas, só tem terra firme: “Ninguém deve brigar a bordo do barco, mas cada richa entre os homens deve ser ajustada em terra firme, seja por pistola ou espada. Após comando do Quartel-Mestre cada homem, antes de costas um para o outro, deve se virar e disparar imediatamente. Se algum homem não o fizer, o Quartel-Mestre deve tirar a arma de suas mãos. E os dois errarem a mira, eles devem partir para a faca e aquele que for responsável pelo primeiro derramamento de sangue será considerado vencedor”.

i) Direitos trabalhistas: “Todo homem que perder um membro do corpo durante o serviço deverá ter 800 moedas vindas do estoque comum – e por machucados menores será compensado proporcionalmente”.


j) Privilégios hierárquico: “O capitão e o quartel-mestre devem receber, cada, duas partes de um prêmio, assim como o arpoador mestre e o contramestre receberão uma parte”.

k) Black Sabbath: “Os músicos devem descansar do Dia do Sabbath, por direito, e nos outros dias apenas por favor”.

3. Cargos e ofícios

            O trabalho era feito em equipe, por isso cada membro da tripulação tinha um cargo ou um ofício! Afinal de contas, não dá só para viver bebendo e navegando por aí. Cada tripulação tinha os seus cargos e divisão de tarefas diferentes, mas esses eram os cargos e ofícios mais comuns:

Navegadores: a verdadeira função de um navegador, é de avaliar minuciosamente as rotas a serem tomadas, certas vezes até podendo decidir o próximo rumo de todo o bando e planejar as viagens seguintes.

Timoneiros: o timoneiro é aquele que tende a cuidar da pilotagem do navio, podendo ser o próprio navegador.

Cozinheiros: o dever de um cozinheiro é preparar os alimentos armazenados no estoque para que seus companheiros comam.

Carpinteiros: apesar de ser algo um tanto raro, ter um carpinteiro na tripulação é muito conveniente, já que as manutenções do navio podem ocorrer cada vez com mais frequência. Um carpinteiro pode também aprimorar o navio ou mesmo construir um novo.

Médicos: é essencial ter pelo menos um integrante dentro da tripulação que tenha algum conhecimento medicinal, nem que seja prestar primeiros socorros. Suas funções envolvem tratar dos doentes e feridos, os mais talentosos conseguem até mesmo efetuar cirurgias precisas.

Combatentes espadachins: integrantes da tripulação que se dedicam exclusivamente a utilização da espada como arma principal. Apesar de não serem essenciais, ter um espadachim habilidoso na tripulação pode ser de grande ajuda quando se trata de combate.

Combatentes lutadores: são indivíduos que investem sempre no combate corpo-a-corpo para resolver os seus problemas, alguns até mesmo dominam uma arte marcial ou estilo de luta específico.

Atiradores: são homens experientes com armas de longa distância e podem se revelar demasiadamente úteis num combate `a distância. Todo atirador que se preze possui grande precisão e mira rápida.

Assassinos: são indivíduos especializados em assassinatos e treinados para matar pessoas. 

Arqueólogos: são historiadores capazes de desvendar a história por trás de antigos objetos através de seus árduos estudos, demonstrando um grande apreço não só pela história em si, como também por culturas e civilizações perdidas.

Músicos: o papel e dever de um músico nada mais é do que descontrair, animar e levantar a moral da tripulação com músicas compostas por eles mesmo. 

Meninos-marujos: as funções de um "menino-marujo" variam de tripulação para tripulação, mas na maioria dos casos, são rapazes jovens que trabalham dentro de um navio ajudando em tarefas do dia-a-dia fazendo faxina e auxiliando os integrantes do bando sempre que podem.

Oficiais: são os principais integrantes de uma tripulação, assim como os que estão mais próximo do Capitão. Geralmente desempenham um papel mais importante, dificilmente se responsabilizando por trabalhos braçais como cuidar das velas ou da limpeza do navio.

Imediato: o imediato é o oficial mais importante dentro de um navio pirata, assim como o braço direito do Capitão, sendo na maioria das vezes o homem em que o Capitão mais confia. É quase um "vice-capitão", administrando e averiguando o trabalho dos outros integrantes e dando ordens quando assim for necessário.

Comandantes de Divisão: um comandante de divisão possui total controle sobre a sua divisão e responde apenas ao seu Capitão. Frotas de navios piratas costumam seguir essa sistemática hierárquica.

Capitães: o capitão é aquele que comanda toda a tripulação e, muitas das vezes, o homem que reuniu todo o bando. um Capitão deve contar com um grande poder de liderança para que a força de seu próprio bando não se vire contra ele mesmo.

Almirante (Capitão de Frota): quando uma tripulação é grande o suficiente para possuir múltiplos navios - o que é conhecido como uma frota — cada navio é controlado por um capitão (ou comandante de divisão), enquanto que a frota inteira é controlada por um almirante, a quem esses capitães respondem.

4. Armas piratas

            Lutas e batalhas são essenciais quando falamos sobre o universo dos piratas, aqui estão algumas armas que eles costumavam usar:

Sabre: o sabre é uma arma de lâmina ligeiramente curvada, de um fio só, com origem na cavalaria oriental. O comprimento original da lâmina era o ideal para atingir tanto cavaleiros como infantaria inimiga.

Rapieira: são espadas com a lâmina relativamente longa e fina, ideal para golpes de perfurações e uma proteção de mão com complicados filetes de metal, o que a torna uma bela arma,

Jian: Espada asiática de dois gumes, também chamada espada Tai Chi e Taijijian, usada por piratas orientais a mais de dois mil anos na China e Singapura.

Dao: a lâmina possui corte único e fio e dorso levemente curvado desde o cabo até sua terça parte. Nesse ponto, a seção mais larga da lâmina, a curvatura é mais sinuosa. O terço final do dorso é um arco côncavo em ascendente, unindo-se ao fio projetado em curva para cima. A empunhadura ou cabo é de madeira e apresenta um leve arco descendente. Seu pomo de metal é usado para desferir estocadas nos adversários.Esta arma costuma trazer amarrado ao cabo um lenço, em geral de duas cores, que serve para desviar a atenção do oponente: ao se prender no rápido movimento das cores, o inimigo não percebe a aproximação de um golpe fatal. Além dessa função, ao derrotar o adversário, o detentor da arma utilizava-se desses panos para limpá-la do sangue.

Espada pequena ou estoque: se assemelha e muito as armas da esgrima, principalmente ao florete, mas enquanto ele se baseava em uma lâmina cilíndrica, a espada pequena possuía fio de corte.

Punhal: qntigamente, porém, era preciso contratar um ferreiro para se ter um punhal, servia para apunhalar oponentes quanto para a ajuda de serviços e reparos no navio.

Machado: no momento em que um machado começa a se mover ele não pára até acertar um alvo, portanto nada podia fazer um homem de espada. Ele deveria se mover rapidamente para que os golpes do machado não o acertassem, cansando o usuário do machado, facilitando o contra-golpe. O segredo era que, no momento em que começava a se girar o machado, não parasse até acertar um alvo, pois é necessária mais energia para parar o machado do que mantê-lo em movimento. Portanto, no momento em que o machado entrava em movimento, criava-se uma área ao redor do soldado inaproximável, inutilizando, assim, qualquer arma cortante. Nem mesmo um escudo 

Mosquete: pertencia unicamente a Marinha Mercântil, geralmente roubada por piratas. Consistia no que hoje chamamos de espingarda, acompanhada de lâminas chamadas baionetas, para ataques corpo a corpo, mecanismo de bombarda e uso de pólvora negra, ao invés da normal

Pistola: uma pistola geralmente é uma arma pequena de boa empunhadura e rápido manuseio, feita originalmente para uso pessoal em ações de pequeno-alcance.

Canhão: Inicialmente os canhões eram de ferro forjado, pequenos e rústicos, pois a arte de fundir achava-se ainda nos primórdios. Tempos mais tarde passaram a ser fabricados com barras de ferro fundido soldadas e reforçadas com anéis do metal.

5. Termos náuticos e partes de um navio

            Se você acha que ser escritor é só digitar palavras legais e criar uma história meia boca, então você pensou errado. Para você escrever um livro, seja ele de fantasia, ficção ou não-ficção, é necessário que esteja familiarizado com aquele universo. Então sim, você terá que conhecer os termos náuticos (não precisa decorar) para poder desenvolver essa história, mesmo que você não os use, isso te dará mais segurança para escrever.

Áreas da embarcação:


CASCO: é a estrutura de flutuação que suporta o navio.

PROA: é a frente do navio.

POPA: é a traseira do navio.

ESTIBORDO: é o lado do navio que está à direita quando o observador olha para a proa do navio. Chamado de boreste no Brasil.

BOMBORDO: é o lado do navio que está à esquerda quando se olha para a proa do navio.

MEIA-NAU: é a parte entre a proa e a popa, ou seja, o mejo.

ALHETAS: parte normalmente curva entre a meia-nau e a popa.

AMURAS: parte curva entre a meia-nau e a proa.

CONVÉS: é a principal parte exterior do navio.

DEQUES: são os "pisos" e diferentes andares do navio. Em alguns navios novos são chamadosde "ponte(s)".

CABINE: área interior do navio (quando o navio é cabinado).

TOMBADILHO: é a área comum ao teto da cabine.

VANTE: da meia-nau para a frente.

RÉ: da meia-nau para trás do navio.

PORÃO: compartimento que fica geralmente na proa, usado para guardar material da embarcação como a âncora, as correntes e etc.


Objetos do Casco do Navio:


PATILHÃO ou QUILHA: estabilizador central que previne o abatimento do barco.

LEME: pá abaixo da linha de àgua que dá direcção.

RODA DO LEME: volante para dar direcção aos barcos.

VARANDIM: cabos normalmente de aço que previnem que o passageiro passe a borda.
 
ALBOIO: janelas do tecto da cabine.

VIGIA: janelas de parede da cabine.

 Âncora: instrumento usado para fundiar a embarcação

VELA GRANDE OU PRINCIPAL: vela principal do barco situa-se logo atrás do mastro principal.

ESTAI: vela secundária à vante do mastro.

GENOA: o mesmo que o estai mas com uma configuração de pano diferente.

SPI: vela em forma de balão com muita área vélica, colocada na proa do barco, geralmente usada em mareações à popa.

ESCOTA: cabo que ajusta a abertura da retranca.

BOÇA: cabo fixo na proa.

ADERIÇA: cabo que iça a vela.

MASTRO: estrutura vertical que segura a vela e transfere a energia do vento para fazer andar o navio.

RETRANCA: estrutura horizontal.

VAUS: estrutura auxiliar à fixação do mastro.

BRANDAL: cabos de estrutura do mastro.

CARANGUEJA: usado em embarcações mais antigas como se fosse uma "retranca superior" sem escota.

PICO: parte mais a ré da carangueja.

BOCA: parte mais avante da carangueja que encaixa no mastro.

Termos de orientação:
 
CAÇAR: puxar um cabo.

FOLGAR: dar mais cabo.

GUINAR: virar a embarcação para bombordo ou estibordo.

ORÇAR: aproximar a proa da linha de vento.

ARRIBAR: afastar a proa da linha do vento.

FUNDIAR: largar a âncora.

CAMBAR: rodar a linha de vento pela popa

BORDO: rodar a linha de vento pela proa.

RUMO: trajecto real praticado pela embarcação.

PROA: direção onde a proa aponta.

APROAR ao VENTO: por a proa na linha do vento.

BARLAVENTO: sentido do vento, de onde vem.

SOTAVENTO: sentido do vento, para onde vai.


            Por fim é isso marujos! Espero que tenha te ajudado, não se esqueça de pegar o mapa e a bússola para continuar escrevendo essa história incrível!

Fontes

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